segunda-feira, 9 de junho de 2008

Entrevista: O dublador do Bloo

Luiz Sérgio Vieira trabalha como dublador desde os 13 anos, época em que fez seu primeiro curso na área. Logo veio o primeiro trabalho na novela Carrocel, em 1991. O papel era pequeno, mas abriu as portas para muitos outros. Hoje, o carioca tem uma vasta galeria de personagens em seu currículo, entre eles Jonnhy Quest (As Novas Aventuras de Jonnhy Quest), Dudu (Du, Dudu e Edu), Bobby Hill (O Rei do Pedaço) e o monstrinho azul Bloo (Mansão Foster para Amigos Imaginários). Nesta entrevista, Sérgio fala um pouco sobre a vida de dublador:

Mansão Foster é voltado para crianças menores. Há um cuidado maior nesse tipo de trabalho?
Há algumas diferenças quando se dubla um desenho para crianças menores e para adolescentes. Principalmente na adaptação do texto, que tem de ter uma linguagem mais simples e acessível para a idade, e na interpretação, que tem de ser mais exagerada, ser mais claro nas falas. O texto precisa ser o menos coloquial possível e mais educativo.

Você também empresta a voz para dois personagens da animação Du, Dudu e Edu (Dudu e Rolf). Como é fazer duas vozes num mesmo desenho?
Acredito que quem assiste ao desenho não repara se as vozes são parecidas. Mas isso não importa muito, o que vale é trabalhar a personalidade dos personagens, o jeito de falar. Isso tem mais força do que a voz em si.

Costuma acompanhar o trabalho de outros dubladores?
Sim, normalmente para ver o que cada um está fazendo. Teve um caso que foi diferente. Dublei o Pernalonga bebê no desenho Looney Toones e tento me basear no personagem adulto, que é dublado há anos pelo Mário Monjardim. É um trabalho tradicional e, nesse caso, foi necessário acompanhar bem perto esse trabalho para compor o meu.

Quais personagens você já dublou?
Eu já dublei o Tai, de Digimon, T.K., o irmão da Kasy, em Super Pig, o Tenchi, e fiz alguma coisa em Yu Yu Hakusho. Também tem aqueles que não são de desenhos japoneses, como o novo Jonny Quest, o Milhouse, dos Simpsons, e o Daniel, da novela Carrossel.

E de qual gosta mais?
Do Tenchi. Acho que porque o desenho não é só voltado para crianças, mas para um público mais jovem. Eu acompanhei bastante o animê pela TV, porque enquanto a gente está dublando só assiste o pedaço que está fazendo, não dá para saber o que está acontecendo direito.

Como você avalia a área de dublagem hoje?
A tecnologia melhorou muito a qualidade da dublagem no Brasil. Ainda não é perfeita, mas o som se aproxima bastante do original – um bom exemplo é a Mansão Foster. Mas há muitos estúdios e profissionais ruins na área, o que acaba prejudicando o trabalho de todos. Como se sabe, os brasileiros não têm muita tradição em assistir a filmes dublados e, quando vêem sem qualidade, acaba gerando ainda mais preconceito. As pessoas não entendem que um filme ou um desenho foi feito para ser visto e ouvido. Ao ler legendas, perde-se imagens importantes. Além disso, é quase impossível colocar nas legendas tudo o que personagem está falando, pois não ficaria difícil ler a tempo da mudança para a outra cena. As legendas são extremamente pobres, contém o essencial apenas, muito se perde.

* Entrevista feita por Shirley Paradizo, publicada originalmente na revista MONET, edição de janeiro de 2007, número 46

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