terça-feira, 21 de outubro de 2008

Brasil no Scream Awards

O quadrinista brasileiro Gabriel Bá continua colecionando prêmios com The Umbrella Academy, HQ da Dark Horse Comics que ele criou ao lado de Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance. Depois de levar três prêmios Eisner e um Harvey, o gibi venceu o Scream Awards 2008 - evento parecido com o Oscar que premia os gêneros de terror, ficção científica e fantasia - na categoria Melhor Artista.

Natural de São Paulo e criador do fanzine 10 Pãezinhos, em parceria com o irmão gêmeo Fábio Moon, Gabriel toca diversos projetos nos Estados Unidos, entre eles BPRD, sigla de Bureau for Paranormal Research and Defense, a agência de investigações do universo das histórias do personagem Hellboy. Nesta entrevista realizada antes de abocanhar o prêmio, Bá fala sobre suas impressões do Scream Awards e sua carreira internacional. Como lembrete, a premiação será exibida no Brasil no dia 31 de outubro, sexta, 22h, no TNT.

O Scream Awards é bem excêntrico. Qual é a sua visão do evento?
Cada premiação tem seu público alvo. Essa é mais apimentada, com performances e pirotecnia que é característica do tipo de material - filmes ou revistas - que eles premiam. O público quer ver sangue e eles não poupam ninguém.


Como você se envolveu com o The Umbrella Academy?
Quando a Dark Horse abraçou o projeto, eles me procuraram, propondo que eu desenhasse a série. O editor, Scott Allie, e o Gerard [Way, da banda My Chemical Romance] já gostavam do meu trabalho e achavam que eu era o artista certo para a revista. Como curti a história, decidi topar o desafio.


O Gerard escreveu a história e o roteiro para da revista. Como foi pegar as visões dele e transformá-las em imagens?
Ele também é um desenhista, tem idéias supervisuais e foi muito fácil entender o que ele queria para a série. Ele sabia bem as referências que construíam o mundo da história e soube passar muito bem isso no roteiro. E isso facilitou bastante meu trabalho.


Qual foi a sua maior preocupação na realização do projeto?
Sempre foi com a história, mas a cada novo roteiro ficava mais tranqüilo. Gostei muito do que contamos. Além disso, sabia que seria meu trabalho de maior exposição até então, por isso me esforcei mais no desenho. Não podia deixar a peteca cair do meu lado da quadra.


Rumores estão correndo na internet de que The Umbrella vai ganhar uma adaptação para o cinema. Existe mesmo a possibilidade?
Sempre existe, mas ainda não há nada certo. Na verdade, não é algo com que eu me preocupo.


Por falar em adaptações de HQs para o cinema, você tem alguma preferência?
Apesar das semelhanças, quadrinhos e cinema são duas mídias diferentes e é preciso explorar o que cada uma tem de melhor para fazer um bom filme ou uma boa revista. Não basta adaptar fielmente o visual de uma revista sem aproveitar o ritmo, o áudio e a narrativa exclusiva do cinema. Não importa se a história for fiel ao gibi, o que importa é que seja bem contada no filme. Neste sentido, gosto muito de X-Men 1 e 2 (principalmente o 2). Já Homem de Ferro não tem quase nada a ver com o gibi, mas é um ótimo filme. Souberam explorar o conflito romântico de Peter Parker e Mary Jane muito bem em Homem-Aranha 2. Uma das melhores adaptações de todos os tempos é o primeiro Conan. Ah, a melhor é com certeza o primeiro Super-Homem, com o Christopher Reeve.

E qual delas foi a pior na sua opinião?
A pior eu não devo ter assistido. Não assisto todas, pois sei que muitas só vão no embalo.


E o 10 Pãezinhos, como surgiu?
O Fábio [Moon, o irmão] e eu queríamos mostrar o que a gente tanto gostava nos quadrinhos para nossos amigos na faculdade. Então, criamos o fanzine para explorar a linguagem e semear os quadrinhos para as pessoas à nossa volta. Começamos com histórias curtas, depois partimos para séries mais longas. Foi daí que surgiram o Girassol e a Lua e Meu Coração, Não Sei Por Quê, nossos dois primeiros álbuns. Em 2001, paramos com o fanzine e começamos a produzir somente álbuns, publicando revistas independentes de tempos em tempos, quando tínhamos uma história curta para contar. Ao longo de 10 anos, os 10 Pãezinhos somam 40 fanzines, 5 livros e 4 revistas independentes.

Com todos esses trabalhos autorais, por que ilustrar as histórias dos outros?
Você precisa se esforçar mais para desenhar a história de outro escritor, pois terá que adaptar a visão dele e fazer coisas que não faria naturalmente se você estivesse escrevendo. Você cresce como artista ao desenhar histórias dos outros.


Com o livro Autobiographix, publicado também pela Dark Horse, você teve a oportunidade de trabalhar com lendas dos HQs como Frank Miller e Will Eisner. Como surgiu o contato com a Dark Horse?
Todo ano vamos à convenção de quadrinhos de San Diego, a Comic Con, e mostrávamos nosso trabalho para a Diana Schutz, editora da Dark Horse. Com o tempo, começamos a reunir histórias para o que viria a se tornar o De:TALES e, neste meio tempo, a Diana nos pediu uma história para entrar no Autobiographix. Ao saber da companhia na publicação, aceitamos na hora. Foi uma das maiores honras da nossa carreira até hoje.

Por que trabalhar em HQs de língua estrangeira? O Brasil não tem mercado?
Fizemos muitos livros aqui e continuamos publicando, mesmo que tenha diminuído a produção. Mas o mercado é muito pequeno. O brasileiro não tem costume de ler e há limite para o quanto um autor pode crescer. O importante não é publicar no exterior, mas poder crescer como contador de histórias. O mercado estrangeiro permite isso e, quem sabe, ajuda a expandir o nacional também. Essa é nossa meta.

Como é a relação com o público de fora? Eles reconhecem o seu trabalho como sendo de "artista brasileiro"?
Não importa diretamente de onde você vem, importa se o trabalho é bom, se a história toca as pessoas. Fazíamos isso aqui e não mudamos nada para os projetos que estamos fazendo lá.


Há diferença entre fãs brasileiros e americanos?
Temos mais fãs aqui, pois nossa carreira já tem 10 anos, mas o leitor estrangeiro respeita um pouco mais o autor e lá estamos atingindo um número bem maior de leitores. Aqui existe uma cobrança muito grande e todo mundo se sente íntimo dos autores a ponto de levar tudo para o lado pessoal. Como o mercado é pequeno, a relação profissional dos quadrinhos acaba sendo prejudicada.


Você e o Fábio sempre trabalharam juntos. Em algum momento, houve algum tipo de competição para saber quem era o melhor?
Quando éramos moleques, tudo era competição. Hoje um joga a bola para o outro e o que importa é o trabalho.

Já está envolvido em algum novo projeto?
O Fábio e eu estamos escrevendo e desenhando uma série nossa para a Vertigo, selo de quadrinhos adultos da DC Comics, chamada Daytripper. Também vamos trabalhar juntos na mini-série BPRD: 1947, escrita pelo Mike Mignola e Josh Dysart. Além disso, já estou trabalhando na segunda série do Umbrella Academy. Aqui no Brasil, publicamos uma página de quadrinhos na revista Época São Paulo todo mês, com uma série chamada Procurando São Paulo, e estamos com uma tira na Ilustrada, na Folha de S.Paulo, todo domingo, chamada Quase Nada.

(shirley paradizo)

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