quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Criança & TV: Você é o filtro

Antes de virar a rotina da criança de cabeça para baixo e esconder o controle remoto, pense em como você influencia a relação dela com os meios de comunicação. E um bom critério na hora de optar por um programa é se perguntar: meu filho aprende alguma coisa com ele? O conteúdo do que seu filho assiste é tão importante quanto o tempo que fica diante dele . "A criança não é passiva. Durante o programa, ela atribui sentido às coisas e faz isso de acordo com suas capacidades cognitivas e de raciocínio", diz Claudemir Edson Viana, pesquisador do Lapic (Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação), da USP.

Uma prova disso é o programa LazyTown, exibido no canal Discovery Kids. "A criança é incentivada pelos personagens a se exercitar, e faz isso durante o episódio", afirma Magnus Scheving, criador e ator do programa. Se escolher o que ela vê e se certificar que é ideal para sua faixa etária, o aproveitamento será maior. Tenha em mente que o conteúdo educativo é qualquer coisa que faça seu filho pensar, estimule a fantasia, exercite o imaginário e diga respeito ao cotidiano dele. E isso varia de acordo com a criança.

Por exemplo, o Castelo Rá-Tim-Bum tem, sem sombra de dúvida, grande potencial educativo. E não só pelo ratinho que incentiva o tomar banho, mas por apresentar também personagens contraditórios como o Nino, que pode ser doce com os amigos ou irritado quando algo não vai do jeito que ele quer. Não há maniqueísmo, ou seja, não há divisão entre o Bem e o Mal.

O programa da Xuxa, por exemplo, também abordava o mesmo conteúdo – higiene –, só que a forma é diferente. “Xuxa imagina a criança sentada em frente à TV, como na sala de aula, atenta às mensagens e suas atrações. É convidada a participar, mas só sob a orientação da ‘professora’ Xuxa e sem sair de sua carteira. Já Castelo e Cocoricó imaginam seu telespectador não como em uma sala de aula tradicional, mas participante de um grupo de trabalho, de uma coletividade. Está atento não só às mensagens preestabelecidas, mas às conexões com suas experiências, com seu cotidiano e com sua fantasia”, diz Cláudio Márcio Magalhães, pesquisador, jornalista e autor do livro Os Programas Infantis da TV – Teoria e Prática para Entender a Televisão Feita para as Crianças (Ed. Autêntica).

Ou seja, escolher um programa de televisão com intenção educativa para o seu filho é quase como optar pelo projeto pedagógico de uma escola.

Qual faz sentido para você?
Até mesmos desenhos como Pica-Pau e Tom & Jerry são educativos, pois não apresentam personagens maniqueístas, ou seja, com os valores de bondade e maldade definidas. A criança se identifica com isso. “Em A Vaca e o Frango e Sorriso Metálico, a questão da nova família é retratada. O primeiro aborda o tema da adoção, enquanto que o segundo mostra uma garota que tem pais separados”, afirma Magalhães.

Os desenhos atuais retratam bem a rotina infantil, com informação por todos os lados. São histórias que misturam tecnologia, poucas falas, muita ação e uma moral. Se pararmos para pensar, são bem parecidos com os desenhos do Pica-Pau criados nos anos 40. Portanto, o melhor entretenimento para o seu filho é, na verdade, vários. “Existem diversos estilos de desenhos porque vivemos em muitas realidades diferentes. O melhor é diversificar a programação”, diz o especialista.

* Texto de Cristiane Rogerio e Tamara Foresti, publicado originalmente no site da revista Crescer

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