quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Novos degelos

E por falar em A Era do Gelo 3 (Ice Age: Dawn Of The Dinosaurs) vale lembrar que o animado está sendo produzido pela Fox Animation Studios em parceria com o Blue Sky Studios e conta novamente com a direção do brasileiro Carlos Saldanha. A seguir, confira um bate-papo com o diretor, com quem conversei, em 2006, para uma matéria sobre Robôs, publicada na revista Monet. A entrevista não é atual, mas dá conhecer um pouco do que é Saldanha: um cara simples, pai de família e muito, muito apaixonado pelo que faz.

Atualmente, as animações procuram aproximar a fisionomia dos personagens ao ator que lhes dará a voz, como em Espanta Tubarões. Vocês nunca tiveram essa preocupação?
Não. Sempre criamos o personagem primeiro e, depois, buscamos a voz que representa melhor o tipo de personalidade que queremos.

Quanto tempo um animado como Robôs ou A Era do Gelo leva para ser produzido?
Geralmente um filme de animação leva uns quatro anos para ser feito. No caso de A Era do Gelo 2 nosso tempo foi reduzido e tivemos de fazer o filme com um ano a menos. Já Robôs atrasou no cronograma e com, isso, perdemos alguns meses preciosos de produção. Além disso, por uns seis meses tive de trabalhar nos dois longas ao mesmo tempo. Foi bem puxado, mas eu sabia do desafio. Acredito que consegui fazer o filme que queria, sem sacrificar a qualidade. Esse cronograma apertado, porém, foi uma exceção e, apesar da experiência ter sido positiva, gostaria de ter tido um pouco mais de tempo.

O que é mais difícil em um filme animado lapidar o roteiro ou desenvolver as técnicas de animação?
O roteiro é sempre o desafio maior. Um bom filme tem que ter uma boa história e personagens cativantes. Sem esses ingredientes não há tecnologia que salve uma animação, mas inovar e aprimorar técnicas de animação é sempre um desafio neste mercado competitivo. O público está cada vez mais exigente.

A Era do Gelo 2 foi sua primeira investida solo na direção. Como foi essa experiência?
Com a experiência obtida co-dirigindo A Era do Gelo e Robôs, a transição foi tranqüila. Os executivos da Fox confiavam no meu trabalho e eu estava pronto para o desafio. Tive muito mais responsabilidades, mas também mais liberdade criativa, além de um apoio incrível de toda a equipe.

Você já concorreu duas vezes ao Oscar, mas, quando se menciona vitórias de diretores brasileiros no prêmio, seu nome não é citado. Acha que existe preconceito contra os diretores de animação, tanto no Brasil como nos EUA?
Não acredito nisso. Há uma divisão de tipos de filmes. Mesmo aqui nos EUA, onde filmes de animação fazem mais sucesso que os live-action, existe essa divisão, inclusive tem até categoria própria no Oscar. Um ator ou diretor de cinema é mais conhecido do público e da mídia do que o de animação. Afinal, passamos a maior parte do tempo no estúdio, trabalhando no computador.

Como você foi parar na Blue Sky?
Fiz mestrado de animação de computação gráfica na School of Visual Arts, em Nova York, e o Chris Wedge, que na época estava montando a Blue Sky, me ofereceu uma oportunidade de trabalho e, claro, aceitei. Na época, a companhia era bem pequena. Quando comecei, dirigia comerciais de TV, depois fui supervisor de animação em Joe e as Baratas e diretor de animação de O Clube da Luta.

O desenvolvimento da tecnologia no setor de animação possibilitou até mesmo a criação de um filme com atores digitais, o Final Fantasy. Não existe limite para essa evolução?
A busca pela invoção continua e a tecnologia está cada vez mais sofisticada. Acredito que o limite vai depender do processo criativo de cada um. Particularmente, não tenho muito interesse pelo lado realístico da animação, prefiro ainda explorar o lado estilizado dos personagens e da desenho.

Na sua opinião, a animação convencional está com os dias contados?
Não acredito. No ano passado, os melhores longas de animação foram de técnicas convencionais, como Wallace & Gromit. Os filmes de computação ainda têm um grande apelo visual com o público, mas, no final, o que vale mesmo é uma boa história para contar. O mercado tem espaço para todo mundo.

O que se deve esperar em termos de avanços tecnológicos para a área de animação nos próximos anos?
A cada filme, novas técnicas são criadas para solucionar os desafios criativos dos artistas. Como diretor, busco explorar os limites técnicos para alcançar um resultado visual único e inovador para meus filmes. O maior desafio que estamos enfrentando no momento não é tecnológico, mas criativo. A busca de roteiros com idéias novas e interessantes são, e sempre serão, o grande desafio para a indústria de animação.

Você tem acompanhado a evolução da animação no Brasil?
Tento manter contato com profissionais do ramo no Brasil e, sempre que posso, vou ao Anima Mundi. Assim consigo me manter informado. A qualidade dos trabalhos que vejo tem evoluído bastante. Acho que o mercado está crescendo, mas ainda é muito pequeno. O custo é relativamente alto, mas fico torcendo para que haja mais investimentos nessa área.

Pretende voltar ao Brasil ou fazer algum filme brasileiro?
Seria muito bom poder fazer um filme no Brasil, mas, no momento, a minha vida profissional está nos EUA. Não faço muitas projeções, se um dia tiver uma oportunidade interessante, quem sabe...

(shirley paradizo)

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