quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Cinema: Coração de Tinta - O Livro Mágico

A primeira cena do filme Coração de Tinta - O Livro Mágico já dá o tom. Um narrador em off explica que existe uma categoria muito especial de pessoas – os chamados “Língua Encantada” – que têm o poder de materializar as histórias que contam em voz alta. Depois desta explicação, o personagem Mortimer (Brendan Fraser, de Viagem ao Centro da Terra) começa a ler a fábula de Chapeuzinho Vermelho para a filha. Em seguida, um capuz vermelho se materializa ao vento, vindo do nada, e pousa caprichosamente à janela do protagonista.

A pergunta que não quer calar: por que raios alguém teve a infeliz idéia de começar a cena com um narrador em off, explicando o que iria acontecer? Por que não deixar para o público o prazer da descoberta? Será que alguém (um produtor, talvez?) achou que a platéia não iria entender o enredo, e resolveu colocar uma voz misteriosa para que tudo ficasse muito bem explicadinho?

Seja qual for a resposta, o resultado é que Coração de Tinta é um longa que repete, durante toda a projeção, o mesmo erro da cena inicial. Ou seja, faz questão de deixar tudo explicadinho, verbaliza demais, subestima a capacidade de abstração do público, e consequentemente elimina aquele que deveria ser o seu maior trunfo: a magia.

Só para dar um exemplo, a informação de que para cada personagem que “sai” do livro deve corresponder a um humano que “entra” na história é falada durante o filme umas 5 ou 6 vezes. De qualquer maneira, no quesito “verbalização demais, cinema de menos”, o filme não chega a ser tão sonolento quanto O Senhor dos Anéis. (Pronto, falei. Agora aguenta).

A trama até que é boa, e foi baseada no livro da escritora Cornelia Funk, a mesma que escreveu os livros que originou os filmes O Pequeno Vampiro e O Senhor dos Ladrões. Tudo começa quando o pacato Mortimer descobre ter o poder de trazer personagens de livros à vida real. Há um corte de tempo e logo se perceberá que tal poder acabou por separar a sua própria família, que agora precisa ser reunida numa saga através do mundo da Magia. Faltou, porém, mais sutileza ao roteiro de David Lindsay-Abaire (que deverá escrever o próximo Homem-Aranha) e mais sensibilidade ao diretor inglês Iain Softley, de Asas do Amor.

Em cartaz: dia 25, quinta, em todos os cinemas nacionais

Classificação: livre
(celso sabadin)

* O multimídia - e querido amigo - Celso Sabadin é autor do livro autor do livro Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o Planeta Tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV Gazeta e da rádio Bandeirantes.

Um comentário:

silvana tavano disse...

Querida Shirley,
Tô estacionando minha bicicleta -- paro até o dia 5. Você viaja? Vamos tentar almoçar no começo de janeiro?

beijo, bom findeano e tudo o que vem depois também!

Silvana