quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Entrevista: Fábio Yabu

Na época do lançamento da animação Princesas do Mar no canal Discovery Kids, no primeiro semestre deste ano, conversei com escritor e ilustrador Fábio Yabu, cuja série de livros serviu de fonte de inspiração para o desenho. Postei aqui os melhores momentos de nosso bate-papo.

Como surgiu a idéia de Princesas do Mar?
A idéia surgiu aos poucos. Primeiro eu criei a Polvina, e achei o visual dela bacana, com aquele polvo no lugar dos cabelos. Depois vieram as outras, a Estér, a Tubarina. Então, antes mesmo de criar a história, eu já tinha o visual de todas as Princesas. Foi um processo bem demorado, que levou quase dois anos.

E como elas foram parar nas TVs do mundo todo?
O livro foi lançado em 2004 e meu sócio levou os livros que tínhamos prontos para uma feira de produção em Canne, onde as editoras internacionais vão à procura de coisas novas. Então, ele conseguiu fechar um negócio com uma produtora da Austrália, que tinha a intenção de fazer uma versão animada da história. E foi aí que tudo começou. De lá, o desenho passou a ser exibido na Europa até chegar ao Brasil.

Você teve participação na criação do desenho?
Sim. Fui à Austrália acompanhar o processo de adaptação. Eu desenvolvi todos os personagens para a animação e também as idéias do roteiro. Passei as histórias para o roteirista e ele desenvolveu o roteiro, mas a base das histórias foram criada por mim.

Acha que, se o desenho tivesse sido desenvolvido no Brasil, a repercussão seria a mesma?
O Brasil não costuma valorizar seus produtos e tenho certeza de que, se o desenho tivesse sido desenvolvido aqui, hoje ele não estaria sendo exibido no Discovery e muito menos nas outras TVs do mundo. E ainda tem o fator dinheiro. O desenho custou 7 milhões de dólares e eu não teria conseguido capital nacional para fazê-lo aqui nem os recursos necessários para terminá-lo em tão pouco tempo. O Brasil não tem interesse em desenvolver algo desse tipo. É um projeto que custa muito caro, o mesmo valor de se fazer um filme. Sendo assim, a preferência fica com os filmes e não com os desenhos. Uma pena, por que temos gente muito boa na área.

O que Princesas do Mar tem a ensinar às crianças?
O que tento passar é que, independente da sua origem, da sua cultura, da raça, todo mundo é igual. Todo mundo é criança, gosta de brincar, ir à escola, conhecer pessoas novas. O desenho tem como ponto forte a ecologia.

Você é uma pessoa engajada?
De uma certa forma sim. Sou do tipo que recicla lixo, sou paranóico com gastos de água, tento o máximo deixar o carro em casa. Essas coisas que todos deveriam se preocupar.

Princesas não foi sua primeira investida no universo infantil, certo?
Antes teve Combo Rangers, que fez muito sucesso na internet entre 1998 e 2003. Combo foi uma grande escola e me a experiência necessária para criar o Princesas, de forma mais consciente. Não ia ser uma simples brincadeira, algo sem controle, mas uma história bem pensada, bem desenvolvida e que eu acreditasse. E agora já está saindo um novo livro, Raimundo, o Cidadão do Mundo. É uma poesia para crianças sobre um rapaz que se sai de casa e não consegue voltar e ele começou a dar a volta ao mundo. Então, vai contando as histórias dos lugares por onde ele passa, como Cuba e Índia.

Em Princesas, não existe o antogonismo, a luta do bem contra o mal, comum aos desenhos infantis. Por que essa opção?
Foi uma escolha bem consciente. Queria que história fugisse dos caminhos óbvios, daquela imagem que as pessoas já tem em mente. Queria criar uma história que surpreendesse as pessoas em todos os aspectos, que fosse diferente. Apesar de elas terem um visual exótico, elas têm uma vida normal, vão à escola, tem defeitos. O diferente hoje é mostrar algo normal.

Quais os cuidados que se deve ter ao se escrever para crianças?
Com a linguagem, principalmente. Cada palavra que você escreve, cada frase, tem de lembrar da sua infância, tentar ver aquilo com os olhos de uma criança para saber como ela vai interpretar o que você está escrevendo. É preciso conquistá-la, tem de ter uma linguagem que a atraía, por que, se ela não gostar, não vai continuar a leitura. Crianças são muito mais exigentes do que os adultos.

(shirley paradizo)

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