quarta-feira, 29 de abril de 2009

Criança & TV: Propaganda infantil

Entre um desenho e outro, seus filhos veem um anúncio de biscoitos de chocolate. No supermercado, eles encontram prateleiras repletas de salgadinhos. E, ao acessar a internet, o personagem do jogo é o mesmo que está na embalagem do cereal matinal. É fato que a propaganda de alimentos direcionada ao público infantil precisa ser regulamentada. Mas será que a proibição é o caminho?

Recentemente, o tema foi mais uma vez discutido em uma mesa redonda promovida pelo Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) e o projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana. Mesmo sem uma conclusão fechada, as discussões levaram governo, ONGs, empresas, publicitários e outros envolvidos a se posicionar sobre a questão nos últimos anos. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) lançou, em 2006, a consulta pública nº 71 para definir uma medida de regulamentação.

Depois de encerrar a contribuição com mais de 250 sugestões, a previsão é de que, em breve, a proposta seja divulgada. “Precisamos discutir alguns pontos com base em critérios da OMS e de resoluções internacionais. Só depois será possível publicar a proposta”, afirma Ana Paula Dutra Massafera, da Unidade de Monitoramento e Fiscalização de Publicidade e Propaganda do órgão. Em relação às empresas, muitas estão atentas e assinaram acordos internacionais, como o EU-Pledge, e definiram normas de autorregulamentação. “Cada empresa tem suas próprias regras, mas o ideal seria existir um padrão único, definido pelo poder público”, diz Isabela Henriques, coordenadora do projeto Criança e Consumo.

Entretanto, mesmo com essas regras, ainda há muita flexibilidade e espaço para discussão. A Nestlé, por exemplo, divulgou recentemente que não vai mais fazer publicidade para crianças abaixo dos 6 anos. Mas como diferenciar a propaganda para os mais novos? “Eu, que sou publicitário, não consigo dizer como é anunciar de maneira diferente para crianças de 6 ou de 7 anos”, diz Stalimir Vieira, assessor especial da presidência da ABAP (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). Atenção para a obesidade infantil Em defesa da regulamentação, o Ministério da Saúde chama atenção para o problema da obesidade infantil.

Produtos repletos de calorias, açúcar, gorduras e sódio são vistos como os grandes vilões na alimentação. “As crianças obesas podem desenvolver problemas de saúde como diabetes, colesterol alto e hipertensão. Além disso, a chance de elas se tornarem adultos obesos é de 50%”, diz Ana Beatriz Vasconcelos, coordenadora geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN) do Ministério da Saúde.

O problema dos alimentos ultraprocessados, como os salgadinhos prontos, biscoitos e outras guloseimas, não está apenas na composição nutricional, mas também nos hábitos a que estão relacionados, garantem os especialistas. “Este tipo de alimento incentiva a uma refeição rápida, no carro ou em qualquer outro lugar, o que não é uma boa prática”, diz Carlos Monteiro, nutricionista da USP. Ele explica que, entre 1975 e 2003, de acordo com o último levantamento do Ministério da Saúde, a alimentação das famílias mudou muito, com a introdução cada vez maior destes alimentos.

Atualmente, as guloseimas e outros produtos prontos para o consumo representam 30% da alimentação da parcela mais rica da população. O que dizem os publicitários Do outro lado da discussão, os publicitários defendem a necessidade de se regulamentar, mas são contra uma medida radical. “Concordo que o problema da obesidade é grave. Só não acredito que a solução seja a proibição da publicidade”, diz Rafael Sampaio, vice-presidente executivo da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes). Ele acredita que o problema é mais amplo. “Como controlar as frituras e bolos de chocolate vendidos em lanchonetes e produzidos sem um controle de qualidade?”, diz.

Para Stalimir Vieira, assessor especial da presidência da ABAP (Associação Brasileira de Agências de Publicidade), as técnicas de “sedução” da publicidade vêm das próprias famílias. “A mãe é quem começa a convencer a criança a comer. Tudo começa com o aviãozinho”, diz. Para ele, a solução está na educação alimentar. Já para a psicóloga Roseli Goffman, a publicidade deveria ter responsabilidade social. “O problema é que a propaganda transforma o ‘aviãozinho’ da mãe em um ‘bem supremo’”, diz.

* texto publicado originalmente no site da revista crescer

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