segunda-feira, 27 de julho de 2009

Literatura: Zoo

"Amar os animais é aprendizado de humanidade." Guimarães Rosa, o mestre de Grande Sertão: Veredas, tinha verdadeira paixão por bichos. Quando viajava - e ele fez isso a vida toda -, costumava visitar os zoológicos das cidades por onde passava e anotava em seus caderninho tudo o que os animais "diziam" para ele. Em Ave, Palavra, publicado depois de sua morte, foram reunidos contos, notas de viagem, poemas em prosa e reflexões. Vários capítulos têm o título Zoo e, entre parênteses, a cidade onde ele escreveu essas anotações: Berlim, Londres, Rio, Hamburgo, Nápoles, Paris.

O escritor Luiz Raul Machado reuniu algumas dessas frases e compilou em Zoo (R$ 35,00, Nova Fronteira), um livro feito para crianças, mas capaz de emocionar adultos. Com ilustrações de Roger Mello, a edição é um livro-objeto que se abre como uma sanfona, conforme o leitor faz a leitura. Ao final, tem-se uma grande folha desenhada sobre a mesa, com todo o texto e imagem integrados. As definições de Rosa, aliás, já são uma inteligente brincadeira na relação entre as palavras e o que elas representam. Ele define a onça, por exemplo, como "tanta coisa dura, entre boca e olhos", o bagre "tem sempre as barbas de molho".

Assim, ele consegue, de forma divertida e lúdica, inciar as crianças não só na imaginação sem limite do escritor, mas também na ousadia com que tratava os aspectos formais da língua: há desde aliterações musicais ("Um pingüim: em pé, em paz, em pose") a neologismos ("O polvo aos pulos: negregado, o oitopatas, seus olhinhos imensamente defensivos, sua barriga muito movente: polvo da cabeça aos pés"), passando por pequenas "corrupções" da norma culta ("A cigarra cheia de ci"). Uma brincadeira que ensina e diverte.

(shirley paradizo)

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