sábado, 5 de março de 2011

Cinema: Rango

As crianças vão gostar. Os adultos vão gostar muito. E os adultos fanáticos por filmes de faroeste vão se deliciar. Com direção de Gore Verbinski (o mesmo da cinessérie Piratas do Caribe) Rango é uma animação que agrada aos mais variados públicos. Mesmo que o ponto de partida não seja lá muito original, revisitando o velho tema do “herói por acaso”, aquele que troca seu confortável ambiente natural por uma terra estranha e acaba sendo confundido com um líder. Aquele que, sem saber que era impossível, foi lá e fez. Você já viu isso muitas vezes no cinema (Madagascar, Caminho para El Dorado, etc. etc. etc.), mas vai rir novamente em Rango.

Rango (dublado por Johnny Depp nas cópias originais) é um camaleão urbano, que vive em um aquário e sonha ser ator. Até que um acidente o atira repentinamente em uma cidadezinha no meio do nada, assolada por uma terrível seca. Um verdadeiro vilarejo estilo velho oeste onde Rango encontrará todas as condições necessárias para demonstrar seu talento de ator frustrado.
Como o próprio título do filme já sinaliza, Rango (mistura de Ringo + Django) é uma grande paródia aos westerns. Uma sátira que homenageia grandes clássicos do gênero. De Era uma Vez no Oeste a Matar ou Morrer. Das cavalgadas em Monument Valley, tão típicas da obra de John Ford, à fotografia esbranquiçada de Por um Punhado de Dólares.

Um desenho que consegue reunir no mesmo caldeirão não apenas incontáveis brincadeiras com os faroestes, como também juntar, em uma única cena, Star Wars com Apocalypse Now (os mais fanáticos vão notar as referências na estonteante sequência da perseguição de morcegos pelo desfiladeiro).
Isso sem falar na trilha sonora de Hans Zimmer – de importãncia fundamental na narrativa - um delicioso e vibrante pastiche de tudo o que de melhor já ouvimos no gênero, com direito a mariachis, várias citações a Ennio Morricone, e uma improvável Valquírias, de Richard Wagner, tocada no banjo!

Rango
é o primeiro desenho animado de longa-metragem a contar com a tecnologia da poderosa Industrial Light and Magic, empresa de efeitos especiais de George Lucas, que inclusive assina o filme como coprodutora. O resultado está na tela, que escancara um visual nunca menos que espetacular. É até uma injustiça dizer que o personagem Rango é somente “dublado” por Johnny Depp. Na verdade, a atuação de Depp vai muito além da dublagem, já que os movimentos do ator foram capturados e transferidos digitalmente para o lagarto.

E a IL&M tem muito a ver com o desenvolvimento deste sistema, que foi amplamente divulgado quando da criação do persoangem Smeagol, de O Senhor dos Anéis, mas que na realidade é bastante antigo. Um de seus pioneiros é o desenhista palestino Ralph Bakshi, que nos anos 70 e 80 revolucionou os desenhos animados dirigindo e produzindo preciosidades como American Pop, Hey, Good Lokking, Fritz, the Cat e – coincidência ou não – uma versão de O Senhor dos Anéis. Não por acaso, Mark Bakhsi, filho de Ralph, é um dos produtores e consultor de Rango.


Reminiscências históricas à parte, o fato é que Rango é uma das melhores e mais divertidas animações da temporada. Peça para seu filho te levar.

celso sabadin*

* O multimídia - e querido amigo - Celso Sabadin é autor do livro autor do livro Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o Planeta Tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV Gazeta e da rádio Bandeirantes.

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